turma da pia! | |||
terça-feira, dezembro 09, 2003 ( 5:58 PM ) selenita Seguindo a proposta, dou aqui minha contribuição para o reavivamento do blog como espaço de troca. Acho bem legal a idéia que divulguemos textos nossos, muito mais por vontade de ler os de vocês do que de expor os meus, mas como se trata de troca... Beijos beijos... --------------------------------------------------------- Blogs se proliferam na internet Internautas, especialistas e curiosos debatem sobre as causas do fenômeno e especula em torno de suas conseqüência A explosão dos blogs na internet gera intensa discussão sobre o tema. Estimativas afirmam chegar a quatro milhões o numero de ocorrências em todo o mundo. Estudiosos e curiosos querem se posicionar diante do questionamento: “o que faz esses blogs serem tão populares?” Alguns respondem que é a conjuntura psicológica e social da modernidade. Outros dão crédito ao simples fato de serem fáceis de fazer. Há ainda quem diga que é vontade de aparecer. Deve ser tudo isso junto. O termo blog surge da redução de WebLog (diário online) e designa páginas de criação e manutenção fácil e rápida. Essas páginas surgiram nos últimos anos da década de noventa e tem se popularizado cada vez mais, de forma que recebem o mérito de ter reavivado o espaço virtual. Não é de hoje que se diz que a internet é um espaço de construção de realidades, no qual as comunidades se recriam fora dos moldes das comunidades concretas; a geografia é o menos importante, as distancias são inexistentes e os estamentos sociais de idade e renda são pouco significativos. As pessoas se agrupam por terem gostos e interesses comuns. As individualidades também se reconfiguram dentro desse contexto, de acordo com a vontade dos indivíduos, que se renomeiam através de “nicks” ou pseudônimos, descrevem a si próprios e criam símbolos que resignifiquem sua existência e reforcem sua subjetividade. Para esses indivíduos virtuais, os blogs foram uma invenção que possibilitou a criação de um espaço próprio, um “cantinho” para chamar de seu, que pode ter a sua cara, onde podem falar do seu jeito sobre as coisas que escolherem. Nesses blogs pessoais, tudo é símbolo e autodescrição – o formato, as cores que os compõem, as imagens, o tom do texto, o título, os links enumerados, a lista de preferências e gostos. Essa necessidade de se afirmar uma subjetividade é explicada por estudiosos do comportamento, que a justificam pela necessidade de se transpor o isolamento, bem como a sensação de ser mais um nas grandes cidades. O psicanalista e colunista da Folha de São Paulo, Contardo Calligaris, afirma que "os blogs são escritos para carregar a marca da autenticidade... Na modernidade, quanto mais somos capazes de mostrar nossas vísceras, mais somos reconhecidos como sujeitos". E falar de si próprio, expressar suas vontades e opiniões é algo natural ao ser humano, em qualquer contexto. O psicanalista Luiz Tenório Lima, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, explica que "todos têm o impulso de mostrar sua intimidade, pois o bebê cresce se expondo, sendo exposto e sendo comentado por todos”. A estudante de turismo Ana Helena Carneiro, 20, que mantém um blog pessoal constantemente atualizado (www.lalena.blogger.com.br), explica os motivos que a levaram a criar seu blog: “uma amiga tinha e eu achava legal; eu queria fazer um tipo de agenda/diário de forma mais organizada e poder lembrar os meus dias; mas a motivação maior foi saber que alguém queria ler e saber um pouco de mim, do meu cotidiano. É uma forma de deixar meus amigos a par do que acontece comigo”. Ao falar de seu blog, ela afirma que “ele significa lembrar, compartilhar...” e afirma ser possível saber muito sobre ela através de seu blog: “apesar de não colocar tudo que penso e sinto no blog, alguém que não me conhece pessoalmente pode me conhecer melhor do que quem me vê todos os dias, porque é no blog onde coloco preferências, alguns sentimentos, pensamentos, acontecimentos...” A facilidade de construir esses espaços virtuais obviamente contribuiu para sua proliferação. Além da gratuidade do serviço, não é preciso maior capacidade técnica do que a de seguir passo a passo às instruções dadas por um assistente de criação oferecido pelos sites que hospedam os blogs. A manutenção dos diários é feita por meio de softwares disponíveis nos próprios sites, que podem ser acessados de qualquer lugar, não sendo necessário salvar o programa no computador. Criar o blog leva poucos minutos, e mantê-lo atualizado é tão simples que as pessoas podem escrever ou “postar” todos os dias. Fazer adaptações e ajustes na aparência do blog de acordo com o gosto do blogueiro pode exigir um pouco mais de tempo e dedicação, mas é um trabalho facilitado pela existência crescente de sites que oferecem aparências de fundo (skins ou templates), imagens que se movem (gifs), caixas de comentário e diversos acessórios de decoração para os blogs, como ponteiros diferentes para o mouse. Esses sites oferecem também tutorias que ensinam de maneira bem simples os usuários a criarem sua própria decoração e alterarem a aparência do seu blog tendo noções de linguagens gráficas como HTML. Mas se o blog surgiu originalmente como diário virtual, hoje sua utilização já acontece nos mais diversos âmbitos. Blogs comunitários não são raros e servem para manter laços entre amigos que compartilham coisas entre si ou para instaurar debates em torno de temas de interesse comum. Vários profissionais já utilizam blogs para a divulgação de seus trabalhos. É o caso do designer e ilustrador carioca Silvio “Moidsch” Ribeiro, 25, que divulga seus desenhos no endereço www.moidsch.blogger.com.br. São comuns também os blogs de divulgação de trabalhos acadêmicos, pessoais ou de grupo. Outro modo profissional de utilização dos blogs, muito estudado e promissor, é a produção jornalística. O professor Paul Grabowicz, diretor do programa de novas mídias da faculdade de jornalismo da Universidade Berkley nos Estados Unidos, leva a sério essa possibilidade. Ele ministra uma cadeira de dois períodos exclusivamente sobre blogs, na qual os alunos aprendem a criá-los e mantê-los atualizados com notícias, aprendendo a aproveitar tudo que é oferecido pela nova mídia. No Brasil também já há a iniciativa por parte do meio jornalístico de incorporar o blog às práticas profissionais. É o caso do jornal carioca O Globo, que recomenda a seus colunistas a manutenção dessas paginas pessoais. Para o jornalismo alternativo, que surge como contraponto ao mainstream noticioso, os blogs são uma ferramenta de valiosa utilidade na divulgação de suas versões dos fatos. Mesmo blogs que não se pretendem jornalísticos podem veicular informações que não estariam disponíveis nos veículos da grande imprensa. Segundo a jornalista e pesquisadora de blogs Diana Moura Barbosa, “é muito interessante ressaltar, que em países onde a liberdade de expressão é bem limitada, há um crescimento interessante do número de blogs, como a China e o Irã. No caso do Irã é ainda mais relevante, porque o blog é praticamente o único ‘porta-voz’ das mulheres, que não possuem veículos de imprensa para anunciarem sua condição de vida”. Não é difícil perceber o motivo de tanto alvoroço em torno do tema. Algo que surgiu há tão pouco tempo e já penetrou tantos espaços, pessoais, grupais e profissionais, faz-se absolutamente passível de atenção. O fenômeno traz à pauta de debates questões complexas que ainda não possuem respostas definidas, mas que merecem, ao fim, serem aqui destacadas: contribuiriam os blogs para uma maior dinamização do espaço virtual? Viriam a se tornar, possivelmente, a maior e mais generalizada ferramenta para liberdade de expressão? E ainda, representariam eles uma verdadeira democratização do espaço público e da informação? As reflexões que notoriamente geram tais perguntas nos levam, no mínimo, à percepção de que o mundo das inter-relações sociais se complexifica, ganhando o tom da imensa e mais verdadeira diversidade humana. # |
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